quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013
Mulher que inspirou Morena de 'Salve Jorge' conta ao G1 drama no exterior Ana Lúcia Furtado foi traficada para Israel, onde trabalhou como prostituta. Personagem inspirou Glória Perez a escrever personagem de Nanda Costa.
Ana Lúcia Furtado era empregada doméstica
e sustentava três filhos quando, aos 24
anos, recebeu uma proposta para o que
sonhava ser um futuro melhor: trabalhar
como garçonete em Israel. Mas acabou
virando prostituta numa boate e serviu de
inspiração para a autora Glória Perez
moldar a personagem Morena, a
protagonista interpretada por Nanda Costa
na novela “Salve Jorge” .
Pela primeira vez após seu resgate, ocorrido
em 1998, Ana Lúcia se prontificou em
contar todo o seu drama em entrevista ao
. Vítima do
tráfico de mulheres, tema abordado na
trama da TV Globo, ela relata como foram
os três meses em que ficou em poder da
quadrilha e a morte de sua prima, Kelly
Fernanda Martins, com quem viajou para
Israel e inspiradora da personagem Jéssica,
de Carolina Dieckmann .
O relato de Ana Lúcia é muitas vezes mais
dramático do que a ficção vivida por Nanda
Costa . Ela diz que o contato com Glória
Perez é frequente e que muitas vezes
reconhece, entre os diálogos da novela, uma
frase que contou para a escritora.
G1 — O que você fazia antes de tudo isso
acontecer?
Ana Lúcia — Antes de receber o convite pra
ir pra Israel eu tinha três filhos: minha filha
de 1 ano e pouco, um filho de 7 e outro de
10. E trabalhava de empregada doméstica.
Criava meus filhos com a ajuda da minha
mãe. Eu era muito próxima a Kelly, que era
prima minha de segundo grau. A gente era
amiga, ia para a balada juntas e foi quando,
em uma dessas saídas, a gente conheceu a
Rosana, em um pagode em Madureira.
Ficamos amigas, ela saía com a gente,
frequentava a nossa casa. Foi quando ela fez
a proposta pra gente.
G1 — Como foi a proposta?
Ela falou: viajei [para Israel], cheguei agora,
eu comprei essa casa, uma belíssima casa,
comprei carro. Estou cheia de dinheiro. Lá
fora está dando dinheiro legal. “E o que
você faz lá fora”, perguntei. “Ah, a gente
trabalha em lanchonete, pizzaria, e ganha
US$ 1,5 mil por mês”. Poxa, você estava
vivendo uma situação difícil, com três filhos
pra criar, sozinha, morando na casa da sua
mãe. Precisando tanto eu quanto a Kelly,
que tinha dois filhos, morava com a mãe
também. A gente querendo ter a própria
independência, casa e dar futuro melhor
pros filhos. Chega alguém dizendo que
viajou, ganha US$ 1,5 mil por mês, e é fácil
assim. E as pessoas oferecem passagem,
tiram seu passaporte e tudo. E a gente se
interessou, né?! Foi quando ela ligou pra
essa pessoa em Israel, que no caso era a
Célia, aí ela entrou em contato com a gente
e falou que mandava uma passagem pra
gente pra trabalhar em uma lanchonete lá
em Tel Aviv.
G1 — Vocês só falavam com a Rosana?
Ana Lúcia — Só depois de um tempo a
gente passou a falar com a Célia, daqui do
Brasil. Ela disse que tinha várias
lanchonetes, que era brasileira e que havia
várias meninas trabalhando, que dava um
dinheiro legal. Aí a gente ficou radiante,
ficou feliz, achando: a gente vai pra lá, fica
seis meses e quando voltar compra a nossa
casa. Esse era o nosso sonho. Tanto que teve
mais meninas interessadas também,
inclusive duas meninas que conheceram
através da gente e foram na nossa frente.
G1 — Vocês em nenhum momento
desconfiaram de nada?
Ana Lúcia — Não, não desconfiamos de
nada porque é tudo muito verdadeiro o que
a Rosana apresentava pra gente aqui no
Brasil. Vinha na nossa casa, sentava,
almoçava. E a mãe dela também falava que
aquilo era tudo verdade, que ela ia pra lá,
trabalhava de garçonete lá e voltava com
dinheiro. Já tinha comprado casa, carro e
estava dando pra sobreviver, estava com
uma vida bem melhor. E a gente frequentava
a casa dela. E acreditou, né? Foi quando
começaram a agir, tiraram o passaporte,
tiraram passagem, compramos roupa. E a
Rosana ainda falava pra gente: “Lá é um
lugar em que vocês não podem andar com
roupa muito pelada. Tem que levar umas
roupas cobrindo o corpo”. E a gente,
inocente, levava.
G1 — E vocês não tiveram mais notícia
das duas que foram antes?
Ana Lúcia — Não tivemos mais contato com
elas, porque elas foram em uma semana e
nós fomos em outra. Porque não podiam ir
quatro de uma vez, tinha que ir de duas em
duas pra poder passar na fronteira de lá.
Isso era o que a Rosana falava pra gente.
Então foram essas duas meninas. E depois
fomos eu e Kelly, garimpando de país em
país. Passamos por Espanha, Alemanha e
depois França. Quando chegamos na França
tinha dois israelenses da máfia nos
esperando. Quando chegamos, dormimos no
hotel do aeroporto da França. Eles levaram
a gente pra jantar, passeamos, conhecemos
algumas coisas lá em Paris. E depois, no
outro dia, fomos pra Tel Aviv. Mas quando
chegamos na França, eles já pegaram nosso
passaporte e passagem, e disseram: “Tem
que ficar com a gente pra passar na
fronteira de Israel”. Quando chegamos em
Tel Aviv, já tinha mais duas pessoas
esperando a gente com carro.
G1 — Em Tel Aviv vocês foram levadas
para onde?
Ana Lúcia — Eu e Kelly fomos numa boa,
entramos no carro. Quando nós chegamos
em Tel Aviv, primeiro eles foram pra boate
onde ia ficar a Kelly, que era a Playboy.
Quando chegamos lá na porta, a Kelly era
mais desaforada, mais agitada, mais brigona,
tipo o que a Carolina está fazendo no papel,
e falou: “Ana Lúcia, que lugar estranho, pra
trabalhar. Uma casa velha, que lugar feio”.
O rapaz disse assim: “Entra”. Nós entramos e
quando chegamos na sala, havia um sofá,
onde estavam muitas meninas, todas
brasileiras, com roupas íntimas, sutiã e um
shortinho íntimo que se usa por baixo da
roupa. Entre as meninas sentadas ali tinha
uma que tinha ido na nossa frente. E a Kelly
falou assim: “Gente, que lugar é esse?”. Aí a
Rita falou assim: “Psiu, não fala nada, depois
eu te falo”. A Kelly falou: “Eu não vou ficar
aqui, não. Ana Lúcia, a gente não vai ficar
aqui. A gente vai embora. Você me trouxe
pra me prostituir? Pra me prostituir eu me
prostituía no meu país”. Ela era mais
desaforada. Eu fiquei morrendo de medo.
Porque aí essa menina disse pra gente: “Olha
só, não faz escândalo e faz o que eles
querem, porque aqui é isso que vocês estão
vendo”. Aí um dos rapazes que foi buscar a
gente em Paris falou: “Você vai ficar aqui,
pra Kelly, e você vem comigo, pra mim”. Aí
eu fui, estava morrendo de medo. Aí eu fui
pra Eliá (boate).
G1 — Como foi nesse local?
Ana Lúcia — Quando cheguei encontrei a
outra menina, que foi na minha frente. Aí
ela me pegou na cozinha e me disse o que
era. Aí já dava pra ver os quartos, a sala
onde as meninas ficavam sentadas e a
recepção com a gerente. Aí me explicaram:
“Ana Lúcia, hoje mesmo você começa a
trabalhar”. A Célia me levou pra um quarto
pra trocar de roupa e conversou comigo. Eu
era mais medrosa. A Kelly era mais brigona,
tinha mais atitude. Eu falei que tinha que
falar com minha família, porque já fazia três
dias que eu não falava com minha família. Aí
ela falou que à noite deixava falar com a
minha família. Aí eu fui pro salão junto com
as outras meninas, muitas meninas
brasileiras. O tráfico de mulheres pra lá é
mais de brasileiras. Você só vê brasileira.
Mas realmente existem muitas meninas
trabalhando em lanchonetes.
G1 — E não era pra se prostituir?
Ana Lúcia — Não, era só para trabalhar
mesmo.
G1 — E você em algum momento chegou
a dizer: “Não, eu não quero fazer”?
Ana Lúcia — Chegamos. Todo mundo chega
falando isso.
G1 — E aí?
Ana Lúcia — Eles dizem: “Não, agora você
vai ter que pagar o que me deve”. “E quanto
eu lhe devo”. “Você me deve R$ 1,5 mil de
passagem, R$ 1 mil pra entrar no país,
cabelo, roupa, você me deve muita coisa.
Quando você me pagar tudo o que me deve,
eu te mando de volta pro teu país”. Mentira,
né?! Porque você nunca consegue pagar a
dívida com eles. Porque a dívida sempre
está aumenta cada vez mais. E a gente quase
não comia. A gente comia quando fugia,
normalmente na sexta-feira.
G1 — Pra onde?
Ana Lúcia — Pra lanchonete que era na
beira da praia.
G1 — E vocês não procuraram a polícia?
Ana Lúcia — Não, porque a gente fugia,
mas eles sabiam onde a gente estava. Por
isso a Kelly foi morta. Os seguranças
seguiam a gente.
G1 — E eles ameaçavam?
Ana Lúcia — Ameaçavam. Diziam que se a
gente saísse de lá, do lucro que estava
dando pra eles, eles vinham para o Brasil
matar nossa família, matar nossos filhos. E
falavam que tinham endereço, que tinha
foto, que sabia onde eles estudavam, como
eles viviam. E realmente sabiam de tudo,
porque a menina frequentou a nossa casa.
Saía com a gente, comia e bebia. Eles sabiam
tudo. E você vai arriscar?
G1 — Como foi a primeira experiência
sua?
Ana Lúcia — Foi horrível. Num primeiro
momento, você sentada ali exposta no sofá,
chega um homem que você nunca viu na
vida, fala assim: “É essa”. Aí te pega, te leva
lá pra dentro do quarto, tem relação sexual
contigo e depois sai com você e paga. Você
se sente uma mercadoria. Depois é exposta
a outro traficante, a um policial, é exposta a
isso tudo. Você não tem querer. O teu
querer é o deles. É chato, é ruim, você
chora, esperneia, mas não adianta. Você
tenta fugir. Tentamos fugir várias vezes, mas
não conseguimos.
G1 — Como?
Ana Lúcia — A gente tentava, porque a
gente saía, né?! A gente não sabia que estava
sendo seguida, estava sendo seguida por
dois carros. Foi quando eles botaram o
carro na frente e atrás, e “sai”, “sai”, “sai”,
botaram a gente dentro do carro e levaram
de volta pro abrigo. Então eles foram
ameaçando a gente o tempo todo, que
sumiam do país, que nossa família não ia
mais saber da gente. E realmente isso
acontece muito. Muitas meninas morreram
lá, estão presas desde a minha época e
nunca mais conseguiram sair do país. É uma
máfia, uma máfia russa, uma máfia muito
perigosa. Aí não tentamos mais fugir.
G1 — Mas a Kelly tentou?
Ana Lúcia — A Kelly achou o passaporte
dela. Aí a primeira coisa que ela fez foi ir lá
na Eliá falar. “Ana Lúcia, achei o meu
passaporte. Agora a gente vai fugir e vai no
consulado com meu passaporte”. Tava tudo
certo. Aí fomos ao restaurante, na
danceteria, foram muitas meninas lá. Só que
ela deixou uma das meninas brasileiras, que
foram na nossa frente, saber. Aí a menina
entregou ela, disse que ela tinha achado o
passaporte e que ia fugir comigo, que a
gente ia ao consulado e que não ia mais
voltar. Falou tudo.
G1 — A acharam a Kelly?
Ana Lúcia — Aí foram caçar ela. Aí acharam
a gente, mas a gente não estava mais em Tel
Aviv, estava em outra cidade. Por que eles
acharam? Porque o pessoal que seguiu a
gente avisou onde que nós estávamos. Foi
quando pegaram ela, já era de manhã,
pegaram ela, botaram dentro do carro e
levaram ela. Aí a gente não soube mais dela.
Pegaram a gente e na boate a Célia me
chamou e perguntou onde a gente estava.
Eu falei pra ela. Ela disse: “Pois é, porque a
Kelly usou tanta droga, que ela morreu”.
“Como ela morreu, se ela estava com a
gente até agora?”. “Ah, ela morreu, acharam
o corpo dela na rua, de overdose”. No outro
dia, chegaram e falaram que a Kelly tava
internada no hospital, que tinha achado o
corpo dela na rua. A gente não podia falar
com o Brasil, a Kelly no hospital, morta,
praticamente. O coração batia, mas não
tinha mais cérebro, né. Espancaram,
bateram muito nela. E aplicaram uma
heroína na veia e foi direto para o cérebro
dela. E ali o cérebro morreu logo, né. O
coração dela ainda batia, por isso levaram
para o hospital. Enrolaram o corpo dela em
um lençol com o passaporte, com passagem,
com tudo. Jogaram ela no meio da rua.
Assim eu soube depois que cheguei no
Brasil.
G1 — E vocês conseguiram falar enfim
com o Brasil?
Ana Lúcia — Conseguimos um celular e
ligar para o Brasil e contamos pra mãe da
Kelly tudo o que tinha acontecido. Ela
entrou em desespero. Aí teve um dia, depois
de três semanas, que a Célia me chamou
com uma das meninas e contou pra mim
que a Kelly tinha morrido. Eu me senti só.
Eu falei: pronto, agora eu também vou
morrer. Aí indicaram para a família da Kelly
a doutora Cristina Leonardo (advogada). Foi
quando começou toda a revolução. A
doutora Cristina dizia que ia buscar a gente
e eles não acreditavam. A Célia dizia assim:
“Pode deixar, que eu vou hospedar você e o
presidente do Brasil na minha casa”.
G1 — E como ficou a situação de vocês
lá?
Ana Lúcia — O terror começou mais sobre
a gente. Aquela vigilância total. A gente já
não podia ir na farmácia, não podia
comprar comida.
G1 — Como foi o resgate?
Ana Lúcia — Meio-dia, ela (Cristina
Leonardo) falou que eles iam buscar a gente.
Meio-dia certinho a polícia de Israel foi
buscar a gente. Eles tomaram aquele susto,
porque não era a polícia que estava
acostumada a ir lá. Aí eu consegui trazer
comigo oito meninas. As outras não vieram.
G1 — Por quê?
Ana Lúcia — Algumas não quiseram vir por
medo e outras estavam na boate. Só vieram
as que estavam na boate comigo. Aí o
consulado resgatou a gente e nós ficamos
sob a proteção de Israel mais um mês,
porque havia julgamento e eles só haviam
prendido o Russo. Aí teve julgamento e
viemos pro Brasil.
G1 — Como foi a chegada ao Brasil?
Ana Lúcia — Quando chegamos no
aeroporto do Brasil a Polícia Federal já
estava esperando a gente, prestamos
depoimento várias semanas. Ficaram
guardando a gente, porque havia muita
ameaça, os traficantes de Israel ligavam pra
gente, botavam criança pra chorar, boneco
pra chorar no telefone dizendo que era o
que iam fazem com a gente, com nossos
filhos. E realmente eles faziam. Em menos
de uma semana aqui eles botaram fogo na
casa de uma menina de Niterói com todo
mundo dentro, atropelaram uma no meio da
rua. Por isso que ninguém fala, aquelas
meninas de lá. Porque elas têm medo.
Porque tudo o que eles falam que vão fazer
eles fazem, eles acham, eles caçam. Eles são
caçadores de prostitutas, de brasileiras. A
preferência deles é o Brasil, pra traficar,
pra escravizar. Nós éramos escravas deles. E
vivíamos em cárcere privado, presas. Nós
éramos prisioneiras.
G1 — Quanto tempo vocês ficaram lá?
Ana Lúcia — Nós ficamos quatro meses.
Três na boate e um sob a proteção de Israel,
por causa dos depoimentos. Eles primeiro
tinham que prender todo mundo. Mas
depois disso a gente foi embora.
G1 — Foram três meses de inferno?
Ana Lúcia — Foram três meses de inferno,
que a gente vivia pra eles. A gente vegetava.
Tinha que fazer dinheiro. E fazia, porque as
boates ficavam dia e noite lotadas.
G1 — Como funcionava?
Ana Lúcia — Tipo o que tem na novela. Tem
o bar, tem a consumação, tem que levar o
cliente pra consumir. Depois, ele já te
escolheu, vai ter que ir pro quarto com ele.
Ele te comprou naquele momento. Aí tem
música, tem raiva, tem desespero, tem
vários tipos de homens. Eu até brinco que o
que a novela mostra é até luxo perto
daquilo que a gente viveu. Perto do que a
gente passou. Às vezes me perguntam na rua
se aquilo da novela é verdade: é verdade,
mas eu passei pior do que aquilo. Como
uma mulher consegue ir para o quarto 20
vezes por dia pra fazer dinheiro pra eles? Eu
nunca consegui.
G1 — Você chegou a ter que sair com 20
homens em um dia?
Ana Lúcia — Não, nunca consegui. Não dá.
Mas tem meninas que conseguiam. Isso
quando não traziam presidiário, e tinha que
ficar o dia inteiro ali com aquele homem.
G1 — E vocês ficavam como?
Ana Lúcia — De calcinha, sutiã e salto alto.
O dia todo. E bem maquiada, penteada, bem
bonita, bem cheirosa.
G1 — Há muito desconfiança ainda?
Ana Lúcia — Muita gente ainda não acredita
na história, não acredita que haja realmente
tráfico de mulheres.
G1 — E no Brasil, como foram os
desdobramentos?
Ana Lúcia — Quando nós chegamos no
Brasil não houve investigação nenhuma.
Depois que a doutora Cristina Leonardo
provou que era verdade é que foram lá
buscar a gente. Mas aqui nós não tivemos
nenhum apoio, não tivemos nada. E hoje,
graças a Deus, estou aí. Trabalho com
quentinha.
G1 — E como foi a história com a novela?
Ana Lúcia — Foi uma coisa incrível. A
minha irmã é cabeleireira e faz cabelo de
uma moça da Globo. Aí ela falou pra minha
irmã que a Glória ia escrever uma novela
sobre o tráfico de mulheres. Aí minha irmã
disse: “Poxa, minha irmã foi traficada”. Aí a
moça falou: “Você tem que falar isso pra
Glória (Perez, autora da novela)”. Aí ligou
pra Glória, que entrou em contato comigo.
Fomos na casa da Glória, conversamos
bastante. Ela me perguntou se eu poderia
falar como foi, como a gente viveu lá e se
poderia ajudá-la. A gente ta sempre
entrando em contato com a Glória, tá
sempre colaborando. A Glória sempre me
liga perguntando como foi determinada
coisa. Às vezes eu falo: “Ih, caramba, isso
fui eu que falei”. A Nanda, meu deu a maior
vontade de chorar quando ela chegou e a
gente... quando eu me deparei com aquilo...
eu achei que não ia sair mais dali. Aquelas
falas todas da Nanda, que não estava ali pra
se prostituir, tudo aquilo eu passei pra
Glória. Eu fico feliz, porque é uma forma de
denunciar. Tudo isso foi verdade. Eu sou
uma prova disso, passei por tudo aquilo que
está sendo mostrado na novela. Eu sou um
material vivo e ela se inspirou nisso. E
também está sendo uma forma de
denunciar, pra vir vivo, e não como a Kelly
voltou.
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